quarta-feira, 20 de maio de 2009

ALBUM DE RETRATOS


Revendo velhos guardados,
encontrei no fundo de uma gaveta
o nosso álbum de retratos.
Distraidamente comecei a abri-lo
e transportei me para um tempo
que julgava ter esquecido.
-
Vi e revi nossa foto de casamento,
já amarelada pelo tempo,
o meu sorriso tímido, mas feliz
o seu como o de um caçador medieval
feliz por ter abatido a presa.
-
Mas eu naquela época não me sentia a presa,
mas sim a feliz escolhida.
Só com o passar dos anos saberia
o que realmente eu seria.
-
O nascimento do nosso primeiro filho,
um lindo menino forte que encheu minha
vida, já triste de alegrias.
-
Veio então a foto do segundo filho,
um menino alegre, feliz.
Tempo em que para mim a única alegria era te-los perto.
-
Depois a tão sonhada menininha,
que veio fechar com chave de ouro a minha
fase geradora, para mim restava agora
cria-los com amor.
-
E foi o que fiz, esqueci-me de mim como mulher
e passei a ser mãe.
A mulher sofria com o abandono da presença,
o amor sem troca, enfim a presa havia se tornado
realmente em presa, e estava cativa para sempre.
-
Em cada pagina virada, via-se a passagem dos anos,
os filhos crescendo felizes,
o caçador, feliz com a família que conquistou.
-
Lágrimas rolam de minha face, grossas,
minha garganta aperta-se tentando conter
os soluços que esmagam o peito,
onde ficou a felicidade tão sonhada,
por quais caminhos da vida se perdeu?
-
Em cada página virada, mais um pouquinho
de minha vida ficava a descoberto,
mais dois filhos, mais alegrias,
como mãe, não poderia ser mais feliz.
-
Pude perceber em cada folha do álbum virada,
que eu envelhecia mais, não em função só do tempo,
mas sim em consequência da tristeza pessoal
em que se resumiu minha vida.
Os sonhos não passaram de sonhos.
-
A felicidade sonhada e almejada, tornou-se
apenas em poucos momentos felizes.
A mulher que havia em mim, que acreditava
iniciar com o casamento um conto de fadas,
envelheceu apenas sendo feliz como mãe.
-
As últimas folhas do meu álbum estavam vazias,
vazias como fiquei eu depois de rever a minha
vida passar a frente dos meus olhos em camera
lenta, dia após dia, ano após ano.
Guardei de novo, escondido lá no fundo
da gaveta, o álbum, para esquece-lo de novo,
e quem sabe nunca mais tentar matar a saudades
de um tempo que jamais deveria ter existido.
-
Sílvia Pertusi

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